Fernando Rodrigues
“Minha arte tem uma inteligência que só os artistas da natureza podem compreender...”
Nascido na casa mais antiga da Ilha do Ferro, Fernando teve uma infância simples. Embora tenha frequentado a escola, em seu depoimento a Celso Brandão, revelou que nunca aprendeu a escrever seu próprio nome, embora afirmasse entender as inscrições rupestres encontradas na região. Durante sua juventude, trabalhou em plantações, cultivando arroz, milho e feijão. Caracterizado por sua natureza provocadora, tanto na vida quanto nas artes, Fernando possui um livro de histórias picarescas e memórias de suas aventuras na caça e na malandragem, ditado e transcrito por outros.
Filho de um fabricante de tamancos, Fernando deu seus primeiros passos nas artes produzindo pequenos objetos na oficina de seu pai. Aos 40 anos, construiu sua primeira peça de mobiliário: uma espreguiçadeira. Na década de 1970, voltou a seguir os passos de seu pai, redesenhando os tamancos originais.
Uma viagem ao Rio de Janeiro em 1979 influenciou significativamente sua trajetória como inventor. Já em 1980, ao retornar para casa, Fernando embarcou em novas empreitadas, construindo o Bar Redondo, cujas mesas e bancos esculturais marcaram o início de sua carreira como escultor e designer de móveis. Suas criações foram expostas em 1987 na mostra "Brésil, Arts Populaires" no Grand Palais, em Paris, e atualmente estão em exibição permanente no Centro Cultural de São Francisco, em João Pessoa, PB. Fernando também expôs no Museu de Arte Popular da Paraíba e na Casa Cor São Paulo em 2001, com destaque para a cadeira de três pés e encosto alto projetada por Arthur Casas, que incluiu uma das peças de Fernando em seu ambiente premiado.
Fernando participou da mostra "O Sentar Brasileiro", com 100 cadeiras e bancos, que inaugurou o novo Museu de Curitiba de Oscar Niemeyer, onde suas peças foram colocadas na sala principal ao lado dos móveis dos irmãos Campana. Seu estilo, marcado por uma predileção pelo orgânico, transparece tanto em seu mobiliário bem equilibrado quanto em suas esculturas. No entanto, suas esculturas, criadas na virada do século XX para o XXI, apresentam um bestiário fascinante de criaturas apavorantes, frequentemente híbridas. Seus recortes conceituais da modernidade também o levaram a representar, como um ex-voto, um braço de Ayrton Senna com uma face de atabaque, em homenagem ao ídolo da Fórmula-1. Esse objeto, revestido de alumínio, também servia como marmita térmica em suas caçadas.
A presença de Fernando contribuiu para revelar gradualmente a Ilha do Ferro como um centro de criação habitado por numerosos artistas.