

Grauben do Monte Lima
Maria Grauben do Monte Lima (Iguatu, CE, 1889 – Rio de Janeiro, RJ, 1972) foi uma figura pioneira e corajosa, que veio trabalhar no Sudeste no início do século XX, inserindo-se em áreas pouco convencionais para mulheres. Segundo a jornalista Maria Ignez Corrêa da Costa Barbosa, Grauben foi uma das primeiras mulheres no Brasil a trabalhar na imprensa, traduzindo romances de capa e espada da revista Fon-Fon, a possuir um cargo público no Ministério da Fazenda e a frequentar desacompanhada as confeitarias da cidade, onde ouvia figuras boêmias da época, como Olavo Bilac e Alberto de Oliveira, além de viajar sozinha de bonde.
Aos 70 anos, Grauben iniciou sua jornada como pintora autodidata. Em um depoimento ao MIS em 1968, ela revelou que sua inspiração para começar veio do crepúsculo observado de sua janela, onde o sol se misturava com o mar, inundando-o com uma esteira de luz, uma cena que a comoveu profundamente. Encorajada por seu sobrinho, ela recebeu materiais para começar a pintar.
Algumas de suas obras chegaram às mãos de Ivan Serpa, que a incentivou a continuar sua arte e a participar de suas aulas no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. A partir daí, Grauben não parou mais. Ela rapidamente conquistou reconhecimento em importantes galerias e instituições no Brasil e no exterior, participando de eventos como a 7ª Bienal de São Paulo em 1963, a mostra "8 peintres naïfs brésiliens" na galeria Jacques Massol em Paris em 1965 e uma exposição individual em 1966 no MAM Rio, que apresentou 80 de suas pinturas.
Embora comparada a outras artistas identificadas como naïfs, como a americana Grandma Moses (1860-1961) e a francesa Séraphine de Senlis (1864-1942), Grauben possuía um estilo único. O crítico Mário Pedrosa descreveu sua arte como um "generoso esbanjamento dos últimos pólens de vida de uma natureza que se desfaz em uma esteira de cores luminosas". Em sua breve carreira, que durou pouco mais de dez anos na última década de sua vida, Grauben produziu quase três mil telas, explorando o que o crítico Walmir Ayala chamou de "neo-impressionismo, com paisagens imaginárias compostas em pequenas pinceladas, como pontos de luz".
As pinturas de Grauben estão presentes em acervos de museus nacionais e internacionais, como o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio), o Museu Nacional de Belas Artes (MNBA) no Rio de Janeiro e a Collection Cérès Franco em Montolieu, França. Seu trabalho também foi incluído em importantes publicações sobre arte naïf e pintura.