Por: Francisco Dalcol
para ZH Entretenimento
21/08/2015 - 15h08min
A nova exposição da Fundação Vera Chaves Barcellos (FVCB) joga luz sobre o acervo da instituição, iluminando um dos segmentos mais preciosos: publicações e trabalhos artísticos impressos vinculados às práticas conceituais dos anos 1970 e seus desdobramentos.
Esse conjunto de obras é um dos destaques de Destino dos Objetos, mostra que tem abertura neste sábado (22/8), das 11h às 17h, na Sala dos Pomares, o espaço de exposições que a instituição mantém em sua sede em Viamão.
Exposição "Destino dos Objetos", na Fundação Vera Chaves BarcellosFoto: FVCB / Divulgação
Com o subtítulo "O Artista como Colecionador e as Coleções da FVCB", a mostra coletiva é resultado de uma investigação para a qual o curador Eduardo Veras tomou como mote a ideia de colecionismo. Primeiro, porque seu ponto de partida foi a coleção da FVCB, formada pela artista Vera Chaves Barcellos ao longo das últimas cinco décadas. Segundo, porque durante sua pesquisa Veras ampliou a ideia de coleção para pensar o colecionismo nas práticas artísticas. Isso tanto em artistas que recolhem e guardam objetos – tirando-os de suas funções originais para lhes emprestar novos sentidos em seus trabalhos – quanto naqueles que se valem da repetição em suas obras – como um recurso que remete ao gesto de escolha, reunião, acúmulo e ordenação.
– No primeiro caso, é tanto o objeto em si quanto uma representação, como uma foto ou um desenho. No segundo, além do gesto inicial de qualquer coleção, que é "opa, isso aqui me interessa, eu quero", é pensar o aspecto do que se repete nos trabalhos. Mas esses dois vetores, é claro, vão se dar sempre por caminhos diferentes em cada trabalho ou prática artística – comenta Veras, que é crítico, historiador da arte e professor da UFRGS.
Obra de Jaílton Moreira
Nesse sentido, é exemplar a obra de Carlos Asp que estampa o convite deDestino dos Objetos: embalagens de remédio que o artista foi reunindo para reutilizá-las como suporte, recobrindo o lado interno com círculos que se repetem. E também a própria produção de Vera Chaves Barcellos, especialmente os trabalhos nos quais a ideia de coleção aparece pelo fato de ela se apropriar de elementos de segunda mão, gerando novos significados quando incorporados em suas obras, e também por se valer dos recursos da série e da repetição como linguagem artística.
Destino dos Objetos reúne uma seleção interessantíssima de nomes da arte contemporânea, de diferentes gerações, cujos trabalhos podem ser aproximados pelas noções de colecionismo desenvolvidas pelo curador. Há obras de cerca de 50 nomes, entre eles, além dos artistas já citados, 3NÓS3, Anna Bella Geiger, Antoni Muntadas, Boris Kossoy, Christo, Gisela Waetge, Hudinilson Jr., Jailton Moreira, Jesus R.G. Escobar, Julio Plaza, León Ferrari, Maria Lúcia Cattani, Mario Ramiro, Mário Rohnelt, Michael Chapman, Téti Waldraff e Waltercio Caldas.
Obra de Carlos Asp
Na seleção de impressos artísticos, o curador escolheu uma série de publicações alternativas que Vera Chaves foi guardando e reunindo ao longo das cinco décadas em que tem colecionado obras de artistas. É um acervo que hoje se destaca pelo conjunto representativo das diferentes vertentes conceituais, reunindo uma série de trabalhos de conteúdo e intenção política - alguns mais sutis, outros mais explícitos. Muitos deles circularam de forma clandestina, à margem dos meios tradicionais de comunicação e do próprio sistema artístico. É o caso da chamada arte postal, quando artistas se valeram dos meios de correspondência, como os Correios, de forma a driblar a repressão.
– Essa talvez seja uma das principais linhas da coleção. Há impressões em offset, arte postal e xerox que na época eram alternativas, tanto na sua forma de apresentação quanto de circulação, mas que ganharam importância museológica com o tempo. A Vera reuniu um conjunto tão amplo e raro que hoje é importantíssimo – comenta o curador Eduardo Veras.
Na exposição, quem recorda da antiga Galeria Chaves, na Rua da Praia em Porto Alegre, também deverá se lembrar do painel luminoso do catalão Antoni Muntadas que estava instalado no local, na escadaria para a rua José Montaury, removido depois de uma reforma. É um trabalho que lida com os fluxos do espaço urbano ao jogar com a linguagem de sinalização e estampar o dizer "ATENÇÃO: PERCEPÇÃO REQUER MOVIMENTO".
– A Vera e o Patricio (Farías, marido da artista) recolheram esse trabalho e ficaram com ele guardado. Agora, ele vai ser reativado no lado de fora da Sala dos Pomares. E, na exposição, temos uma outra versão dele – conta Veras.
Em cartaz até 12 de dezembro, Destino dos Objetos é a segunda das duas exposições que a FVCB traz a público anualmente, dando sequência a Fórmulas Abstratas, individual de Nelson Wiegert apresentada entre março e julho.
DESTINO DOS OBJETOS Abertura neste sábado (22/8), das 11h às 17h. Visitação de 24 de agosto a 12 de dezembro, de segunda a sexta, das 14h às 17h30min, e de terça a sexta, das 9h às 12h, mediante agendamento. Entrada gratuita. Fundação Vera Chaves Barcellos (FVCB), em Viamão (Avenida Senador Salgado Filho, 8.450, RS-040), entre as paradas de ônibus 53 e 54, pórtico de entrada ao lado do condomínio Buena Vista. Fones (51) 3228-1445 e (51) 8229-3031 e emaileducativo@fvcb.com. Neste sábado, haverá transporte especial gratuito. Embarques às 11h e às 14h, em frente ao Theatro São Pedro, em Porto Alegre. Disponibilidade sujeita à lotação e a agendamento. Informações pelo email info@fvcb.com e pelo fone (51) 8102- 1059.